Está a chover. Esteve assim o dia todo. Da janela apenas vejo as copas dos pinheiros mansos e a planície alentejana que se estende e se entende até tocar no horizonte.
O céu está carregado de nuvens espessas quase negras que vomitam uma luz branca que nos cega de tão forte.
A chuva cai oblíqua e hidrata os pastos secos pelo Verão. Da esquerda para a direita, como se de uma forma grave quisesse acentuar o meu estado de espírito.
As nuvens rasgam o céu tornando-o cada vez mais negro, querendo forçosamente afirmar a chegada do Outono. Quase que custa a acreditar que os dias de sol nos deixaram… Ainda ontem o sol raiava em força e o teu sorriso era gratuito. Sentiam-se ainda os corpos quentes e sedentos de uma aproximação, de um toque demorado.
Ainda ontem contemplei o último pôr-do-sol. O mais bonito. Digno dos céus em que habita e a fazer-se notar em todo o seu esplendor, ainda que em jeito de despedida.
A chuva bate agora na vidraça com maior força, parece querer chamar a minha atenção. Olho então pela janela e confirmo a aproximação do Outono e do tempo frio. A aproximação de olhares vazios promovendo a ferrugem dos sorrisos.
Parou a chuva. Parou o vento. Eis a suspensão meteorológica. Parou o tempo neste quarto frio e húmido.
Alguém deu umas pinceladas azuis no céu e o sol espreita envergonhado fazendo reflectir as gotículas de água que dançam na sama dos pinheiros.
As casas brancas e alguns cavalos dispersos pastam alheios a tudo desprovidos de qualquer preocupação.
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