12 junho, 2011

Pra onde vai...


Um ano depois, continuo a sentir a tua falta da mesma forma...


Hoje está a ser difícil de mais. Dei por mim a chorar às 4 da manhã como uma criancinha perdida. Não consigo aceitar o que aconteceu. Não consigo perceber porque nos deixaste…
De manhã, acordei e vesti-me sem sequer tomar banho, para não perder a coragem. Saí de carro e conduzi-me até ao cemitério. Estava uma manhã cinzenta como o sentimento que em mim habitava. Comprei uma gerbera rosa e entrei. Passando o portão, vira-se na rua logo à direita e percorre-se um longo caminho ladeado de árvores altas e jazigos de ninguém. Desci até encontrar uma pequena parede desenhada de azulejos que se assemelha a uma fonte e virei à esquerda acompanhando o gradeamento verde. Chegando ao fim dessa rua, estende-se à minha frente um mar de campas na qual se encontra a tua. Desço um pouco e começo a procurar… 9026. Sigo os números com cuidado e ouço ao longe as pancadas que o coveiro dá na terra. Procuro e não encontro. Começo a ficar ansiosa e lembro-me do que me passou pela cabeça às quatro da manhã: “amanhã vou ao cemitério e vou começar à procura, não a vou encontrar e tudo não passará de um sonho, porque tu não nos deixaste e se te ligar, irás responder do outro lado da linha com a tua voz tão doce… a mais doce”. Comecei a ficar deveras confusa, olhando para tantos nomes, mas nenhum era o teu. Com a flor na mão e um ar desamparado, decidi pedir ajuda ao coveiro.
-“Bom dia”, disse eu com alguma insegurança na voz, “pode-me ajudar? Procuro a campa 9026 que sei que deve ser por aqui, mas não estou a encontrar”.
- “É de uma senhora?”, perguntou o pesado coveiro ainda de mãos na enxada, tentado arrumar os trilhos que a chuva desalinhou.
- “Não, é de uma menina”, respondi tristemente.
- “Ah… é de uma menina que morreu ali?”, perguntou ele apontando para a direcção da tua casa.
Apenas assenti com a cabeça e agradeci quando indicou a tua campa.
Olhei e nela estava a frase mais bonita: Agora já podes voar…
Fiquei sem fôlego. Essas palavras bastavam realmente.
Coloquei a flor sobre a terra ainda húmida da chuva da noite anterior e olhei a tua fotografia. Tirei um lenço de papel e limpei-a das gotas de calcário já secas. Contraí-me e comecei a chorar.
Assim permaneci durante alguns minutos. Rezei. Pedi-te desculpa. Por inúmeras razões e por nenhuma em especial. Desejei ter-te de novo a meu lado. “A minha menina…” disse.
Encostei a mão à testa, pois parecia pesar mais do que o próprio corpo e senti as lágrimas a percorrerem-me a face. Só pensava que isto não faz sentido nenhum. Porquê?... Não me conseguia mexer. Permaneci imóvel durante bastante tempo até ter força de novo para o fazer.
Por fim, limpei as linhas desfiadas de água que insistiam em permanecer e levantei-me. Colei um beijinho com o dedo à tua fotografia e saí.
Andei devagar no retorno. Vislumbrei novamente as árvores excessivamente compostas de folhas verdes e senti o vento forte a bater-me no rosto. Não estava frio e respirei fundo na procura de uma força qualquer. Respirei procurando expelir o peso que me acompanha até agora. 
À distância de algumas horas, encontro-me em casa frente ao computador a digitar palavras soltas que nada significam. Porque desde que partiste, nada significa realmente. Tentamos dar importância às coisas, procurando algo onde nos agarrar, mas tudo parece demasiado vago e sem qualquer utilidade. Como se se desfizessem por entre os nossos dedos.
Tudo se desfaz… Nada parece erguer-se. Onde podemos encontrar algo que nos dê alento, que nos dê a leveza que procuramos para poder continuar? É tão triste e dói demais.
Sei que não devo pensar assim e me devo conformar. Devo pensar que se partiste, é porque chegou a tua hora e com certeza foste para um lugar melhor onde olharás por todos nós.
És o nosso anjinho… a nossa menina. Para sempre… 







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