Finalmente, chegaram as noites quentes de verão. Aquelas em que nos esquecemos de tudo o resto e que nos perdemos em intermináveis conversas que nos permitem conhecer quem somos e as possibilidades que o mundo nos dá.
Acompanhados por uma garrafa de vinho e iluminados por uma vela já disforme, vamos consumindo a noite… que tanto nos entende.
A música é igualmente importante e o ritmo que imprime leva-nos a um envolvimento mais invulgar. É aquele tipo de intimidade que raramente se atinge. Não é de natureza física, nem mesmo psíquica. Também não se pode dizer que seja emocional ou sentimental. Parece antes uma força que nos conduz a um qualquer lugar que não este, a um nível superior do entendimento. Este estado é atingido quando duas ou mais pessoas conseguem colocar-se no mesmo registo oral. As ideias passam a fluir de uma forma tão intensa, que deixam quase de ser precisas palavras para transmitir o que quer que seja.
Um olhar, uma sílaba, uma interjeição e uma gargalhada são a explicação e a confirmação de que a ideia chegou ao outro clara e distintamente. Não é necessário que haja um raciocínio complexo ou uma palavra menos usada, mas sim simplicidade no discurso e essencialmente sensibilidade. Essa sensibilidade que anda a maior parte do tempo adormecida ou, mesmo, que quase ninguém tem.
As horas passam e, esquecidos de tudo, já há muito que perdemos a noção do tempo.
Somos, por fim, arrancados desse êxtase racional com a aproximação da madrugada que nos faz recordar que somos comuns mortais com estas vidinhas miseráveis que tentamos enaltecer a cada dia… todos os dias… até ao último dia.
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