"Mentir é um jogo da imaginação e ele lembrava-se do orgulho que tinha em se esconder nesse labirinto, como quem sente o prazer de uma vitória sobre si próprio. (...)
Era mais uma vez preciso safar-se e não há mais eficiente maneira do que a de alterar a estúpida e brutal realidade das coisas, usar como de uma arte essa extraordinária possibilidade que ele tão bem conhecia quando ainda não sabia que a mentira pode matar. "
Pedro Paixão, in Aflição
A mentira é outra história qualquer… Uma história que inventamos, não para enganar o outro, mas algo que nos faça sentir mais confortáveis perante a crua realidade. Criamos perspectivas, universos paralelos, desculpas infundadas que justifiquem o que não conseguimos explicar. Adaptamos o discurso, criamos versões e falácias e, essencialmente, deturpamos o que foi sentido.
O sentimento incómodo a que nos tentamos opor, que ousamos modificar, virar do avesso, para que se transforme em qualquer coisa diferente com que seja mais fácil lidar, com que seja possível viver.
Como o corpo que se molda à areia da praia, a mentira molda-se à certeza dos dias, a uma realidade que não se aceita por ser demasiado perfeita e, por conseguinte, duvidosa.
E o tempo vai passando, as histórias inventando, as mentiras vão surgindo e tudo se confirma num sorriso amargo pela razão que se afirma e que não devia existir.
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