Cacilheiro
que invadiste as águas do Tejo
Qual
gigante trazido nas tormentas de outras marés.
Tu,
que aqui entraste num torpor de desejo
Assim,
tão cheio daquilo que és.
Devolve-me
o meu rio, as minhas águas, a minha calçada
Devolve-me
o olhar triste dos corvos, as ruelas e os fados de uma voz calada.
Devolve-me
o chão que piso a passo,
Devolve
a ternura do meu abraço.
Devolve
esta luz que é minha e que vieste roubar.
Devolve-me
estes bairros de flores, as vielas estreitas, devolve-me o ar.
Não
te permito que aqui guardes os teus segredos, as tuas mágoas.
Vai-te
sem deixar rasto, sem deixar riscos no reflexo destas águas.
Aqui
não há lugar para as tuas lágrimas, para as tuas dores e temores.
Não
há lugar para os teus passados e pecados e muito menos para os teus tornados.
Leva
daqui o teu sal, leva daqui o teu mal.
Deixa-me
sozinha, deixa-me a saudade.
Deixa-me
aqui, onde pertenço, onde me encontro,
Onde
sou eu no meio da minha cidade.
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