20 abril, 2014

Cacilheiro

Cacilheiro que invadiste as águas do Tejo
Qual gigante trazido nas tormentas de outras marés.
Tu, que aqui entraste num torpor de desejo
Assim, tão cheio daquilo que és.
Devolve-me o meu rio, as minhas águas, a minha calçada
Devolve-me o olhar triste dos corvos, as ruelas e os fados de uma voz calada.
Devolve-me o chão que piso a passo,
Devolve a ternura do meu abraço.
Devolve esta luz que é minha e que vieste roubar.
Devolve-me estes bairros de flores, as vielas estreitas, devolve-me o ar.
Não te permito que aqui guardes os teus segredos, as tuas mágoas.
Vai-te sem deixar rasto, sem deixar riscos no reflexo destas águas.
Aqui não há lugar para as tuas lágrimas, para as tuas dores e temores.
Não há lugar para os teus passados e pecados e muito menos para os teus tornados.
Leva daqui o teu sal, leva daqui o teu mal.
Deixa-me sozinha, deixa-me a saudade.
Deixa-me aqui, onde pertenço, onde me encontro, 
Onde sou eu no meio da minha cidade.



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