15 fevereiro, 2013

Sangue Amargo


Senti um leve sabor a sangue na boca. Não sei de onde vem, se de um lábio cortado ou de uma mágoa distante. Levo os dedos à boca, como se o toque levasse ao reconhecimento. Em vão. O sabor amargo de que desconheço a origem é-me familiar. Passo a língua devagar, saboreio, comprimo docemente os lábios num afago que parece acalmar a ferida inexistente. 
Distraio-me com a luz que aparece no visor. É uma mensagem tua. Revelas o desejo em me ter, esse desejo jamais saciado. Respondo com um sorriso que nunca revela o que sinto. Ficas sempre sem saber se os meus desejos são os teus, se as  minhas vontades querem encontrar as linhas do teu corpo. 
Frente ao espelho, a uma proximidade que me parece fundir ao reflexo, comprovo que nada existe para que eu possa sentir este sabor a sangue. Talvez não seja meu, então. Talvez seja o sabor do teu sangue que sinto. Um sabor morno e metálico. Talvez de uma ferida ainda aberta, quem sabe se infligida por  mim. Essa ferida que se sente a cada vez que lhe toco, a cada vez que os meus lábios procuram os teus. A cada vez que os meus dedos tocam a tua pele quente do sangue que te corre nas veias, esse que agora sinto na minha boca sem entender a razão. 
Memórias de ti que deixas em mim para que eu não te possa esquecer.



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