Senti
um leve sabor a sangue na boca. Não sei de onde vem, se de um lábio cortado ou
de uma mágoa distante. Levo os dedos à boca, como se o toque levasse ao
reconhecimento. Em vão. O sabor amargo de que desconheço a origem é-me
familiar. Passo a língua devagar, saboreio, comprimo docemente os lábios num
afago que parece acalmar a ferida inexistente.
Distraio-me
com a luz que aparece no visor. É uma mensagem tua. Revelas o desejo em me ter,
esse desejo jamais saciado. Respondo com um sorriso que nunca revela o que
sinto. Ficas sempre sem saber se os meus desejos são os teus, se as minhas vontades querem encontrar as linhas do
teu corpo.
Frente
ao espelho, a uma proximidade que me parece fundir ao reflexo, comprovo que
nada existe para que eu possa sentir este sabor a sangue. Talvez não seja meu,
então. Talvez seja o sabor do teu sangue que sinto. Um sabor morno e metálico.
Talvez de uma ferida ainda aberta, quem sabe se infligida por mim. Essa ferida que se sente a cada vez que
lhe toco, a cada vez que os meus lábios procuram os teus. A cada vez que os
meus dedos tocam a tua pele quente do sangue que te corre nas veias, esse que
agora sinto na minha boca sem entender a razão.
Memórias
de ti que deixas em mim para que eu não te possa esquecer.
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