Sempre foste assim. Desde pequena. Sei que és
boa pessoa, porque não suportas injustiças. És confrontada e, mesmo sabendo que
tens razão ou que não fizeste mal nenhum, tremes que nem varas verdes. Chega-te
a dar a volta à barriga. Isso só acontece a quem sente as coisas de forma
genuína. Mas não quebras, manténs-te erguida. Lutas, chegas-te à frente.
Defendes os justos e os injustiçados. Morres por dentro perante pessoas
tacanhas e mesquinhas. Revolta-te que a dor de uns possa ser o prazer dos
outros. Continuas a lutar, mesmo sabendo que possas ser incompreendida. Sabes
que te sentirás melhor se te levantares e falares. Porque não suportas que
esses nós te fiquem presos na garganta. Não te escondes, não viras costas, não
te resignas.
Defendes quando sabes que tens que defender. Calas
quando sabes que os outros se podem defender por si próprios. Sabes reconhecer quem é e quem não é. Sempre
foste assim. Desde pequena. Mesmo que possas sair prejudicada, continuas a
fazê-lo. Nunca foste de passar a mão pelo pêlo de ninguém só porque fica bem.
Nunca te juntaste a rebanhos. Preferes ser a ovelha negra do que ir contra
àquilo que defendes só porque é socialmente conveniente. E levas porrada tantas
vezes... Às vezes, com tanta força e tão consecutivamente que nem sabes de onde
elas vêm. Mas é inevitável. Cais, levantas-te, sacodes as calças e segues em
frente. Continuas a ir para a frente de batalha, de peito aberto e coração na
mão. A alma exposta para quem a quiser ver, para quem a souber compreender.
Mesmo que assim, vulnerável, possa ser magoada muito mais facilmente. Corres
esse risco. Uma e outra vez. Caramba!
Há quem te admire. Há quem te deite abaixo,
pelo simples prazer de ver o outro cair.
Há quem caminhe ao teu lado, pois pensa da
mesma forma que tu. E, no fundo, te reconhece. Não adianta tentar modificar a
matéria de que as pessoas são feitas. E tu... Sempre foste assim. Desde
pequena.
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