Estou imóvel. Uma tranquilidade habita em mim como há muito
não acontecia. O meu corpo nu, coberto de um odor ainda morno, está de costas
para o teu. Os teus braços envolvem-me de uma forma estranhamente confortável.
Através da janela aberta, sinto a leve brisa que de quando em quando se faz
sentir, fazendo lembrar que o mundo lá fora ainda se move. Alheio-me. Neste
lusco-fusco que anuncia a aproximação da noite, fito o branco do tecto por onde
passam luzes fugidias provenientes dos carros que deslizam sobre a calçada. Os
teus dedos passeiam na superfície da minha pele e movem-se em festas mais e
mais espaçadas. Deixas-te ir devagar e abandonas-te
mesmo ao meu lado. Estás tão colado a mim quanto possível. A tua respiração
torna-se mais pesada. Sorrio. Sentes que daqui nenhum mal virá. Isso assusta-te,
faz-te duvidar depois de um passado tantas vezes amargo. Aqui e neste preciso
momento, sentes a tranquilidade necessária para te deixares levar para outro
lado qualquer. Permaneço imóvel. Volto a sentir a brisa que envolve o quarto e atenua
o calor húmido dos corpos. Respiro fundo e sinto uma calma imensa. Era mesmo
disto que estava a precisar. Descansar um pouco do resto do mundo num momento
tão efémero quanto este. Fico assim... só assim a desfrutar a ausência das
coisas. Sem sentimentos. Sem compromissos. Dois corpos apenas, abraçados num
gesto tão simples. Um gesto que por vezes demora tanto a chegar. Movo-me
devagar. Acordas sem saber quanto tempo passou. Ajustamos a posição, tão
docemente quanto possível, para não acordar o momento. Libertamo-nos em meios
sorrisos e olhares transparentes, despidos de qualquer preconceito. Livre,
fecho os olhos e ouço este silêncio que diz tanto...
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