06 novembro, 2015

Uma Prega no Tempo

Uma prega no tempo era o que se desejaria para anular certas datas que acentuam a dor e que fazem rever momentos conturbados da vida. Uma suspensão de memória que anularia o peso no peito e que evitaria os sorrisos que temos que ter sempre prontos para mascarar a mágoa.
Próximos estarão os festejos, esses que, outrora sim, foram momentos de festa e que hoje já não fazem assim tanto sentido por não os podermos partilhar com aqueles que partiram. É certo que continuam a fazer algum sentido por aqueles que cá ficam, os que nos instigam a continuar por mais um dia, todos os dias...
E, apesar de continuarmos a sorrir com a mesma genuinidade, são sorrisos um pouco amargos, sorrisos de coração pesado, porque esse coração, tão e tantas vezes cheio, está agora irremediavelmente quebrado. Cheio de cicatrizes que jamais se apagarão com o tempo. O tempo que gentilmente nos dizem, numa mentira piedosa, cura tudo.
Assim, se sugeriu (e bem), num rasgo de génio, que uma prega no tempo seria um mal necessário nesta época que cada vez mais dói, pela ausência daqueles que perdemos e que eternamente amamos.