17 abril, 2015

Entro numa sala e...

Cadeiras frias e uma mesa recta. Paredes brancas. Alguns livros numa estante e objectos aleatoriamente espalhados sobre a mesa. Talvez uma sala de aula improvisada.
Ouço pessoas lá fora que falam e estendem os seus passos pelo soalho de madeira corrida. Distraio-me a olhar pela janela e imagino o dia que se move lá fora, cheio de sol e de pessoas que passeiam e desenferrujam os sorrisos.
De repente, sou surpreendido pela porta que se abre. Ela entra, vira-se sobre si própria e fecha a porta atrás de si. Inconscientemente, dou por mim a seguir os seus movimentos, talvez atraído pela ausência desses neste espaço inerte. Ela senta-se devagar, recolhe a cadeira contra a mesa, ajustando o corpo ao espaço que lhe cabe. Começa a escrever.  Ajeita o cabelo comprido atrás da orelha. Parece ter os pensamentos dispersos, alienados ao que a rodeia. Não consigo perceber se é feliz ou triste. Tento ver nos seus olhos que, embora grandes, pouco revelam. É estranho tentarmos adivinhar o que os outros são ou como são pela mera observação. Parece que estamos a invadir um pouco da sua privacidade, da sua intimidade. Tentamos adivinhar as suas vidas, as suas rotinas e até os seus momentos de loucura. Mas são apenas meras coisas com que ocupamos o pensamento ao imaginarmos outros mundos, talvez com o intuito de nos distrairmos do nosso próprio mundo e das coisas que nos entediam. Qualquer razão é válida para que consigamos encher a mente, que já se encontra tão cheia de coisas tão vazias.
Volto a olhar para ela e, agora à distância de apenas alguns minutos, parece que a conheço um pouco melhor. Quase que consigo dizer o que vai no seu pensamento, o que pesa no seu coração.