Hoje foi o dia mais difícil. As horas foram passando e a ansiedade foi crescendo dentro do meu peito. Foram surgindo gestos nervosos que não reconheço. Não sabia o que fazer com as mãos. O coração dispara e respirar torna-se difícil. Tento disfarçar. Pensar noutra coisa qualquer. Não quero que ninguém repare que estou assim.
Ao revelar a alguém que por vezes me vou abaixo, dizem-me que estou no meu direito, que posso deixar cair as defesas, que ninguém me vai julgar ou deixar de gostar de mim, que há muitas pessoas que acreditam em mim. Mas não é essa a questão. Recuso-me a ceder. Explico que, se cair, me vai custar mais a levantar. Na verdade, tenho medo de cair, de me deixar levar por este turbilhão e não conseguir voltar. Sei que se cair não vai lá estar ninguém para me apanhar. Pois, por mais que digam que sim, eu sei que na verdade estou sozinha. Como todos nós. Passamos a vida à procura de alguém que nos acompanhe, alguém em quem possamos confiar e que incondicionalmente estará lá para nós. Mas na verdade isso não existe. Estamos sozinhos no mundo e apenas nós próprios podemos aprender a ultrapassar o que nos faz sofrer. Eu sinto isso. Eu sei isso.
Estou sozinha. Quero-o assim. Por mais gente que tenha à minha volta, nunca será a companhia certa, porque continuo à espera que tu voltes. Continuo à espera que o telefone toque para ouvir a tua voz. Combinar um lanche no café novo que abriu ao pé do Rato. Reparei hoje. Queria partilhar isso contigo. Queria-te convidar. Imagino-o na minha cabeça. E sei que, no fim, nunca me deixas pagar a conta. Sorrio por momentos…
Tenho medo de adoecer, pois ninguém me cuidará como tu.
Tenho medo de ir cortar o cabelo. Estamos todos a precisar, mas ninguém ainda foi capaz. Ninguém ainda foi capaz de desfazer o que fizeste. Talvez na esperança ilusória que possas voltar e que tudo não passe de um pesadelo.