04 outubro, 2011

Under water thoughts

Nadei na escuridão do teu pensamento...
Senti a tua dor e as tuas frustrações. Talvez por sermos demasiado parecidos. Talvez por termos dores semelhantes ou apenas por andarmos à procura da mesma coisa.
Sentes-te preso aos compromissos que te consomem e te inibem de seres tu prórpio. Sentes-te sufocado nos teus dias ausentes de liberdade. Preso a quem já nada te dá. Cresce a revolta e o desespero. Tens medo. Medo de tudo à tua volta, medo de ti. Medo do que possas fazer se um dia perderes o controlo.
Sentes-te perdido e sem forças. Afastas-te por uma noite. Deambulas sozinho pelas ruas da cidade. Cigarros, alcóol e um livro de poesia são a tua companhia. Libertas-te durante algumas horas e sorris. Mas de nada vale... está lá tudo na mesma. Da mesma forma, com o mesmo sabor amargo.
Na manhã seguinte, volta a rotina dos dias: as discussões, as obsessões, a possessão. O controlo exagerado que só te faz querer desaparecer dali. Fugir para outro lugar longe de tudo, longe de ti.
Mas ao invés, ficas e envolves-te cada vez mais num mundo de frustrações e infelicidade. Não consegues sair daí, estás demasiado enredado.
Tenho medo que seja tarde demais e que com o tempo te venhas a tornar uma pessoa amarga. Que deixes de acreditar no amor. Que percas os teus amanhãs e que te refugies onde outrora nadei...


02 outubro, 2011

Outubro Passado



Está a chover. Esteve assim o dia todo. Da janela apenas vejo as copas dos pinheiros mansos e a planície alentejana que se estende e se entende até tocar no horizonte.
O céu está carregado de nuvens espessas quase negras que vomitam uma luz branca que nos cega de tão forte.
A chuva cai oblíqua e hidrata os pastos secos pelo Verão. Da esquerda para a direita, como se de uma forma grave quisesse acentuar o meu estado de espírito.
As nuvens rasgam o céu tornando-o cada vez mais negro, querendo forçosamente afirmar a chegada do Outono. Quase que custa a acreditar que os dias de sol nos deixaram… Ainda ontem o sol raiava em força e o teu sorriso era gratuito. Sentiam-se ainda os corpos quentes e sedentos de uma aproximação, de um toque demorado.
Ainda ontem contemplei o último pôr-do-sol. O mais bonito. Digno dos céus em que habita e a fazer-se notar em todo o seu esplendor, ainda que em jeito de despedida.
A chuva bate agora na vidraça com maior força, parece querer chamar a minha atenção. Olho então pela janela e confirmo a aproximação do Outono e do tempo frio. A aproximação de olhares vazios promovendo a ferrugem dos sorrisos.
Parou a chuva. Parou o vento. Eis a suspensão meteorológica. Parou o tempo neste quarto frio e húmido.
Alguém deu umas pinceladas azuis no céu e o sol espreita envergonhado fazendo reflectir as gotículas de água que dançam na sama dos pinheiros.
As casas brancas e alguns cavalos dispersos pastam alheios a tudo desprovidos de qualquer preocupação.