30 agosto, 2011

Mind as well be blind


O lugar onde agora trabalho nem sequer tem janelas. As paredes são cinzentas, o tecto é cinzento e o chão é cinzento. A luz é artificial. O trabalho é monótono, mecânico. Chega a ser estupidificante. As faces espelham o conformismo. O hábito impera e ninguém se apercebe da realidade lá fora. As expressões sem vida, apodrecidas. Os olhares baços e inertes. Vive-se à parte do mundo.
Nunca sei se está sol ou chuva. Se é de noite ou de dia. Talvez o mundo tenha acabado lá fora e eu nem me tenha apercebido.
Resta-me concentrar-me na ideia de que a vida começa às dezoito horas. Até lá fico aqui nesta dormência de pensamentos, nesta ausência de luz. Nesta castração de raciocínio quase sufocante.
Só me apetece dormir. Não seria muito útil, mas certamente mais gratificante. Pelo menos partilharia os meus sonhos, ao invés deste marasmo incolor.

06 agosto, 2011

blind spot

Sim… Estou sempre na tua mente, mas nem sempre da mesma forma. E por vezes sou desviada para um canto tão recôndito da tua consciência que nem dás por mim. Fico no ângulo morto do teu pensamento. Estou mesmo ali, mas não me vês, não me ouves, não sentes sequer a minha presença. És desviado por maiores atenções, menores intenções, pelas luzes e pelo brilho. Ficas embriagado pelas inclinações e nem te apercebes que as coisas também a ti te escapam por entre os dedos.
As horas passam e o silêncio toma conta do meu mundo. É um vazio que não me pertence, uma sensação estranha que tento afastar. E que, apesar de tudo, a reconheço por já me ter atropelado tantas vezes. Vezes demais…
Afinal, estás aí, mas não estás. Vejo-te a ti, sinto-te e sei-te de cor.
Vou fugir daqui, deste espaço de ninguém. Deste silêncio que destrói e me consome. Vou erguer-me num repente, de esticão para não custar tanto. Vou agir como quando estava sozinha, pois foi assim que te apaixonaste por mim. Não me quero anular, como no passado. Recuso-me a viver na sombra… mesmo que seja a tua. Vou caminhar e, dizer como dizia antes, quem quiser que me acompanhe.
Não quero viver numa mentira, por mais bela que seja.
E um dia que espreites, porque alguma coisa me trouxe de novo à tua memória, pode ser que tenha desaparecido e não exista mais no teu ângulo morto…

PS. Or maybe I'm just too close for you to see me...