16 junho, 2011

Até Lá Abaixo


Fui convidada para ir à apresentação de um livro. Galeria Zé dos Bois, Bairro Alto, após um dia repleto de preocupações e de problemas que não posso resolver.
“É um livro dos amigos do M.”. Sem vontade, lá fui apenas para fazer companhia à Charlie.
Sem expectativa nenhuma, saí e lá nos dirigimos à referida apresentação.
Chegámos e já havia muita gente à porta, apesar do eclipse da Lua que previa roubar audiência. Entrámos e, como o evento ainda não tinha começado, decidimos conhecer o espaço. Logo à entrada fomos recebidas por um São Bernardo enorme que, pela sua simpatia, anunciou o que viria a ser uma noite surpreendente.
Subimos e fomos conhecendo um lugar muito bem concebido que, mantendo a traça original do prédio, combina a arte com a mística deste bairro de Lisboa. Salas consecutivas de paredes brancas com pinturas de cores garridas, mobília demodé e um magnífico terraço. Tirámos algumas fotos e voltámos “Até Lá Abaixo”…
Este era o título do livro que se apresentava agora no piso térreo, numa sala pejada de gente. Fomos brindados por um vídeo que fez esboçar um sorriso na minha face, devido à surpresa a que fui sujeita quando me deparei com um dos temas que tanto amo – África.
A música dos Tinariwen enchia a sala que nem devido ao calor excessivo se fazia abandonar pelos espectadores, encantados pelas imagens e pelo som dos tuaregues. Ninguém teria essa ousadia, pois a expectactiva era crescente.
O editor fez uma apresentação apaixonada e a Cândida Pinto comentou o livro de uma forma muito envolvente. A descrição e a sua interpretação fez-nos viajar até ao mais belo dos continentes. Toda a viagem e as suas adversidades, a gente de sorriso alargado, o céu estrelado e a paisagem imensa, todos os desconhecidos com quem se cruzaram, completam a história e fazem crescer a vontade de ler o livro. Foi aqui que decidi que tinha mesmo que o comprar.
O contacto com o povo africano de uma forma muito única e a esperança com que vivem, a vontade em superar os problemas e a posição que têm perante o mundo e a sua condição (na maior parte dos casos adversa e muito distinta da dos ocidentais, que cinicamente a desprezam), mudou com certeza a perspectiva destes três viajantes.
Surgem as referências a Salif Keita, Didier Drogba e até aos grandes Staff Benda Bilili – que (tal como os anteriormente referidos Tinariwen) tive o prazer de ver o ano passado no FMM que tiveram o poder de pôr toda a gente a dançar e a saltar, mesmo sendo um grupo de pessoas mutiladadas fisicamente, mas indubitavelmente agraciadas musical e espiritualmente. Mesmo condicionados, foram a banda mais enérgica em cima do palco do castelo.
A seguir, foi a vez do Tiago intervir. Esse “puto”, como se auto-intitulou, que teve a ousadia de se aventurar por África com os amigos, sem a mínima preparação. E é isso que os torna admiráveis: a sua coragem e também a sua resistência física e mental.
Com um sorriso sincero e um brilho no olhar, conveceu os demais. A simplicidade e a humildade estiveram presentes no seu discurso e a vontade de partilhar com o público a sua experiência era mais que evidente.
Seguiu-se a sessão de autógrafos. A espera, regada por alguns copos de sangria, foi acompanhada por conversas com os amigos do autor. Pessoas acessíveis e de fácil trato, sem preconceitos, daquelas que já é difícil de encontrar.
A demora foi recompensada pela dedicatória personalizada de cada um dos intervenientes.
Ao chegar a casa e apesar do cansaço, não consegui resistir à leitura das primeiras páginas do livro que me levará de Lisboa a Joanesburgo.
Apesar de ter dormido apenas quatro horas, acordei com a boa disposição que me acompanha desde ontem à noite.
Resta-me agradecer à Charlie por ter partilhado um evento que transformou uma noite que parecia perdida num acontecimento muito especial.






1 comentário:

  1. Devorei-o de uma assentada só, vais ver que vale mesmo a pena ;)

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