29 junho, 2011

Até Lá Abaixo - Parte II


“Já acabei de ler o livro. Estou angustiada.” – Foram as primeiras palavras que me vieram ao pensamento quando fiz descansar a contracapa sobre a última página.
Envolvi-me muito com as histórias contadas e com a forma simples como o Tiago escreve. Tal como ele, fiquei com pena que esta viagem tivesse chegado ao fim.
De qualquer forma, sinto-me privilegiada por ter podido partilhar todos os momentos, mesmo que apenas no papel de mera leitora, “bem sentadinha no banco de trás do Yuran”, usando as palavras que o Fontes me deixou na dedicatória.

Quero-vos agradecer aos três e a todos os que possibilitaram a realização da viagem e a edição do livro. E quero-vos pedir para nunca desistirem de perseguir os vossos sonhos.
E com o mesmo sorriso franco esboçado pelo polícia que vos deu as boas-vindas a África do Sul, eu vou digo Obrigada.


PS – Espero-vos no FMM. J




27 junho, 2011

Petit Magicien

O teu coração batia forte.... Coloquei a mão no teu peito.
O pulsar do teu sangue no centro da minha mão.
Perguntei o que aquilo significava. Disseste que era magia.
Não quero magia. Não quero ilusão.
Já se atravessaram no meu caminho todos os possíveis ilusionistas com os seus truques.
Não quero mentiras nem verdades, quero só o tempo que virá.

22 junho, 2011

Triste Fado


Surge de novo este triste cansaço
Este peso que se arrasta num viver demorado
Este olhar moribundo de um sono acordado
Este sonho perdido num dia adiado

E a ilusão do desejo por demais encantado
E o pensamento nas trevas parece fechado
E a dor que no peito parece um pecado
E o olhar que se estende num horizonte vidrado

Na procura de um corpo outrora abraçado
Na sede de um beijo jamais demorado
Na esperança de um dia dizer obrigado
No momento em que a dor for posta de lado...

21 junho, 2011

Simple Request

Preciso de mais, de muito mais do que é possível imaginar. Preciso do mundo inteiro, deste universo e do outro, com estrelas, planetas e todos os et’s. Preciso de tudo o que já foi feito e do que ainda está por inventar. Preciso disto e daquilo, de um tudo e de um nada. Preciso do real e do ilusório. Do essencial e do supérfluo. Preciso do original, da cópia, do duplicado e até do rascunho. Preciso do espaço e do tempo. Preciso do fogo, da terra, da água e do ar. Preciso dos quatro ventos e de todos os pontos cardeais. Preciso do Sol e da Lua. Preciso de todos os sorrisos, de todos os abraços e de todos os olhares. Preciso do toque e do cheiro. Preciso do agora e do para sempre. Preciso dos segundos, dos minutos, das horas, dos dias, dos meses e dos anos. Preciso dos momentos guardados e dos esquecidos. Preciso de todos no geral e de ninguém em particular. Preciso do por acaso e do programado. Preciso do sem querer e do intencional. Preciso da vontade e da disponibilidade. Preciso das mensagens, dos telefonemas, dos emails, dos post’s e dos bilhetes simples. Preciso das viagens à volta do mundo e das escapadinhas ao meu Alentejo. Preciso de um "boa noite" e de um "bom dia" sem teres sequer saído do meu lado. Preciso de tudo o que já tive e terei, do que nunca foi e do que nunca será. Preciso que saibas de tudo isto para que mo possas dar um bocadinho todos os dias, pois na verdade é só disso que preciso…


16 junho, 2011

Até Lá Abaixo


Fui convidada para ir à apresentação de um livro. Galeria Zé dos Bois, Bairro Alto, após um dia repleto de preocupações e de problemas que não posso resolver.
“É um livro dos amigos do M.”. Sem vontade, lá fui apenas para fazer companhia à Charlie.
Sem expectativa nenhuma, saí e lá nos dirigimos à referida apresentação.
Chegámos e já havia muita gente à porta, apesar do eclipse da Lua que previa roubar audiência. Entrámos e, como o evento ainda não tinha começado, decidimos conhecer o espaço. Logo à entrada fomos recebidas por um São Bernardo enorme que, pela sua simpatia, anunciou o que viria a ser uma noite surpreendente.
Subimos e fomos conhecendo um lugar muito bem concebido que, mantendo a traça original do prédio, combina a arte com a mística deste bairro de Lisboa. Salas consecutivas de paredes brancas com pinturas de cores garridas, mobília demodé e um magnífico terraço. Tirámos algumas fotos e voltámos “Até Lá Abaixo”…
Este era o título do livro que se apresentava agora no piso térreo, numa sala pejada de gente. Fomos brindados por um vídeo que fez esboçar um sorriso na minha face, devido à surpresa a que fui sujeita quando me deparei com um dos temas que tanto amo – África.
A música dos Tinariwen enchia a sala que nem devido ao calor excessivo se fazia abandonar pelos espectadores, encantados pelas imagens e pelo som dos tuaregues. Ninguém teria essa ousadia, pois a expectactiva era crescente.
O editor fez uma apresentação apaixonada e a Cândida Pinto comentou o livro de uma forma muito envolvente. A descrição e a sua interpretação fez-nos viajar até ao mais belo dos continentes. Toda a viagem e as suas adversidades, a gente de sorriso alargado, o céu estrelado e a paisagem imensa, todos os desconhecidos com quem se cruzaram, completam a história e fazem crescer a vontade de ler o livro. Foi aqui que decidi que tinha mesmo que o comprar.
O contacto com o povo africano de uma forma muito única e a esperança com que vivem, a vontade em superar os problemas e a posição que têm perante o mundo e a sua condição (na maior parte dos casos adversa e muito distinta da dos ocidentais, que cinicamente a desprezam), mudou com certeza a perspectiva destes três viajantes.
Surgem as referências a Salif Keita, Didier Drogba e até aos grandes Staff Benda Bilili – que (tal como os anteriormente referidos Tinariwen) tive o prazer de ver o ano passado no FMM que tiveram o poder de pôr toda a gente a dançar e a saltar, mesmo sendo um grupo de pessoas mutiladadas fisicamente, mas indubitavelmente agraciadas musical e espiritualmente. Mesmo condicionados, foram a banda mais enérgica em cima do palco do castelo.
A seguir, foi a vez do Tiago intervir. Esse “puto”, como se auto-intitulou, que teve a ousadia de se aventurar por África com os amigos, sem a mínima preparação. E é isso que os torna admiráveis: a sua coragem e também a sua resistência física e mental.
Com um sorriso sincero e um brilho no olhar, conveceu os demais. A simplicidade e a humildade estiveram presentes no seu discurso e a vontade de partilhar com o público a sua experiência era mais que evidente.
Seguiu-se a sessão de autógrafos. A espera, regada por alguns copos de sangria, foi acompanhada por conversas com os amigos do autor. Pessoas acessíveis e de fácil trato, sem preconceitos, daquelas que já é difícil de encontrar.
A demora foi recompensada pela dedicatória personalizada de cada um dos intervenientes.
Ao chegar a casa e apesar do cansaço, não consegui resistir à leitura das primeiras páginas do livro que me levará de Lisboa a Joanesburgo.
Apesar de ter dormido apenas quatro horas, acordei com a boa disposição que me acompanha desde ontem à noite.
Resta-me agradecer à Charlie por ter partilhado um evento que transformou uma noite que parecia perdida num acontecimento muito especial.






14 junho, 2011

A Mentira

"Mentir é um jogo da imaginação e ele lembrava-se do orgulho que tinha em se esconder nesse labirinto, como quem sente o prazer de uma vitória sobre si próprio. (...)
Era mais uma vez preciso safar-se e não há mais eficiente maneira do que a de alterar a estúpida e brutal realidade das coisas, usar como de uma arte essa extraordinária possibilidade que ele tão bem conhecia quando ainda não sabia que a mentira pode matar. "

Pedro Paixão, in Aflição


A mentira é outra história qualquer… Uma história que inventamos, não para enganar o outro, mas algo que nos faça sentir mais confortáveis perante a crua realidade. Criamos perspectivas, universos paralelos, desculpas infundadas que justifiquem o que não conseguimos explicar. Adaptamos o discurso, criamos versões e falácias e, essencialmente, deturpamos o que foi sentido.
O sentimento incómodo a que nos tentamos opor, que ousamos modificar, virar do avesso, para que se transforme em qualquer coisa diferente com que seja mais fácil lidar, com que seja possível viver.
Como o corpo que se molda à areia da praia, a mentira molda-se à certeza dos dias, a uma realidade que não se aceita por ser demasiado perfeita e, por conseguinte, duvidosa.
E o tempo vai passando, as histórias inventando, as mentiras vão surgindo e tudo se confirma num sorriso amargo pela razão que se afirma e que não devia existir.

12 junho, 2011

Pra onde vai...


Um ano depois, continuo a sentir a tua falta da mesma forma...


Hoje está a ser difícil de mais. Dei por mim a chorar às 4 da manhã como uma criancinha perdida. Não consigo aceitar o que aconteceu. Não consigo perceber porque nos deixaste…
De manhã, acordei e vesti-me sem sequer tomar banho, para não perder a coragem. Saí de carro e conduzi-me até ao cemitério. Estava uma manhã cinzenta como o sentimento que em mim habitava. Comprei uma gerbera rosa e entrei. Passando o portão, vira-se na rua logo à direita e percorre-se um longo caminho ladeado de árvores altas e jazigos de ninguém. Desci até encontrar uma pequena parede desenhada de azulejos que se assemelha a uma fonte e virei à esquerda acompanhando o gradeamento verde. Chegando ao fim dessa rua, estende-se à minha frente um mar de campas na qual se encontra a tua. Desço um pouco e começo a procurar… 9026. Sigo os números com cuidado e ouço ao longe as pancadas que o coveiro dá na terra. Procuro e não encontro. Começo a ficar ansiosa e lembro-me do que me passou pela cabeça às quatro da manhã: “amanhã vou ao cemitério e vou começar à procura, não a vou encontrar e tudo não passará de um sonho, porque tu não nos deixaste e se te ligar, irás responder do outro lado da linha com a tua voz tão doce… a mais doce”. Comecei a ficar deveras confusa, olhando para tantos nomes, mas nenhum era o teu. Com a flor na mão e um ar desamparado, decidi pedir ajuda ao coveiro.
-“Bom dia”, disse eu com alguma insegurança na voz, “pode-me ajudar? Procuro a campa 9026 que sei que deve ser por aqui, mas não estou a encontrar”.
- “É de uma senhora?”, perguntou o pesado coveiro ainda de mãos na enxada, tentado arrumar os trilhos que a chuva desalinhou.
- “Não, é de uma menina”, respondi tristemente.
- “Ah… é de uma menina que morreu ali?”, perguntou ele apontando para a direcção da tua casa.
Apenas assenti com a cabeça e agradeci quando indicou a tua campa.
Olhei e nela estava a frase mais bonita: Agora já podes voar…
Fiquei sem fôlego. Essas palavras bastavam realmente.
Coloquei a flor sobre a terra ainda húmida da chuva da noite anterior e olhei a tua fotografia. Tirei um lenço de papel e limpei-a das gotas de calcário já secas. Contraí-me e comecei a chorar.
Assim permaneci durante alguns minutos. Rezei. Pedi-te desculpa. Por inúmeras razões e por nenhuma em especial. Desejei ter-te de novo a meu lado. “A minha menina…” disse.
Encostei a mão à testa, pois parecia pesar mais do que o próprio corpo e senti as lágrimas a percorrerem-me a face. Só pensava que isto não faz sentido nenhum. Porquê?... Não me conseguia mexer. Permaneci imóvel durante bastante tempo até ter força de novo para o fazer.
Por fim, limpei as linhas desfiadas de água que insistiam em permanecer e levantei-me. Colei um beijinho com o dedo à tua fotografia e saí.
Andei devagar no retorno. Vislumbrei novamente as árvores excessivamente compostas de folhas verdes e senti o vento forte a bater-me no rosto. Não estava frio e respirei fundo na procura de uma força qualquer. Respirei procurando expelir o peso que me acompanha até agora. 
À distância de algumas horas, encontro-me em casa frente ao computador a digitar palavras soltas que nada significam. Porque desde que partiste, nada significa realmente. Tentamos dar importância às coisas, procurando algo onde nos agarrar, mas tudo parece demasiado vago e sem qualquer utilidade. Como se se desfizessem por entre os nossos dedos.
Tudo se desfaz… Nada parece erguer-se. Onde podemos encontrar algo que nos dê alento, que nos dê a leveza que procuramos para poder continuar? É tão triste e dói demais.
Sei que não devo pensar assim e me devo conformar. Devo pensar que se partiste, é porque chegou a tua hora e com certeza foste para um lugar melhor onde olharás por todos nós.
És o nosso anjinho… a nossa menina. Para sempre… 







04 junho, 2011

Light Candles & Red Wine

É quase fim de tarde, mas a noite ainda vem longe.
Finalmente, chegaram as noites quentes de verão. Aquelas em que nos esquecemos de tudo o resto e que nos perdemos em intermináveis conversas que nos permitem conhecer quem somos e as possibilidades que o mundo nos dá.
Acompanhados por uma garrafa de vinho e iluminados por uma vela já disforme, vamos consumindo a noite… que tanto nos entende.
A música é igualmente importante e o ritmo que imprime leva-nos a um envolvimento mais invulgar. É aquele tipo de intimidade que raramente se atinge. Não é de natureza física, nem mesmo psíquica. Também não se pode dizer que seja emocional ou sentimental. Parece antes uma força que nos conduz a um qualquer lugar que não este, a um nível superior do entendimento. Este estado é atingido quando duas ou mais pessoas conseguem colocar-se no mesmo registo oral. As ideias passam a fluir de uma forma tão intensa, que deixam quase de ser precisas palavras para transmitir o que quer que seja.
Um olhar, uma sílaba, uma interjeição e uma gargalhada são a explicação e a confirmação de que a ideia chegou ao outro clara e distintamente. Não é necessário que haja um raciocínio complexo ou uma palavra menos usada, mas sim simplicidade no discurso e essencialmente sensibilidade. Essa sensibilidade que anda a maior parte do tempo adormecida ou, mesmo, que quase ninguém tem.
As horas passam e, esquecidos de tudo, já há muito que perdemos a noção do tempo.
Somos, por fim, arrancados desse êxtase racional com a aproximação da madrugada que nos faz recordar que somos comuns mortais com estas vidinhas miseráveis que tentamos enaltecer a cada dia… todos os dias… até ao último dia.



03 junho, 2011

Costa Vicentina

Preciso de ti… Sinto falta da calma que proporcionas. Sinto falta desse teu mar e das tuas praias de areia grossa. Sinto falta do teu sol, das tuas planícies, do teu cheiro. Sinto falta de fechar os olhos e sentir o vento a bater-me na cara e de te respirar bem fundo. Fazer-te entranhar em mim para que permaneças por todo o tempo possível.
Quero-te trazer comigo, quero-te trazer em mim. Quero poder relaxar e restabelecer a ligação mesmo à distância, para que possa recuperar a energia necessária.
Tantas vezes que me acolheste nos teus braços e sempre que volto a ti, desfeita, quebrada, feita em cacos, pegas em mim com todo o cuidado e voltas a colar todos os pedaços perdidos. Reconstróis-me.
Todos os teus recantos fazem já parte de mim. Todas as histórias que aí vivi davam para escrever um livro. Risos e lágrimas. Tantos momentos, tantas memórias…
As tuas falésias que me acolhem, escondem todos os meus segredos. Sinto-me segura. Fazes-me sorrir.
Proporcionas-me o melhor pôr-do-sol e o melhor amanhecer.
Respiro-te devagar e sinto-me como uma parte de ti.
E é por isso que para aí voltarei em breve, para me reencontrar… para me reconstruir.


02 junho, 2011

O Lápis Azul…


E palavras de amor foram censuradas
E expressões incrédulas surgiram
E reacções precipitadas feriram
E desculpas sem jeito foram proferidas

E sentimentos de culpa se fizeram sentir
E atitudes sem sentido se fizeram mostrar
E estes lábios sem força não quiseram sorrir
E a mágoa surgiu sem poder evitar

E as conversas inúteis e infundadas
E as promessas desenhadas no ar
E as desculpas aceites e não esquecidas
Mas no fim prevalece a vontade de amar

E as palavras que escrevo não posso mostrar
Pois os entes escondidos irão espreitar
E a censura virá de novo julgar
O que o lápis azul irá rasurar…