31 março, 2011

The Koln Touch...


Sinto ao longe as mãos que passam devagar nas teclas daquele piano. A música aparece quase sem querer e desperta lentamente os meus sentidos. Parece um pouco dramática, um pouco crua, quase rude. Depois acalma de novo e envolve-me docemente com as suas notas ternas e quentes. Afaga-me o cabelo e desliza suavemente pela minha pele quase sem tocar…
Mantenho os olhos fechados e ouço-te cantar as notas que reproduzes no piano. Brincas com os dedos em improviso construindo a mais bela das melodias. Quando insistes repetidas vezes na mesma nota, sabes que me estás a atingir no mais profundo de mim. Ouço as pancadas secas que dás no pedal e que se assemelham a batidas de um coração. Quase que dói.
Depois vens novamente para perto de mim e desfazes as notas devagar sobre o meu corpo, cobrindo-o como se fossem pétalas de rosa. Precipitas-te sobre mim em movimentos repetidos que aumentam a intensidade da música.
Páras.
Susténs a respiração.
Olhas-me.
Seguras a minha face entre as tuas duas mãos e sorris. Sinto o teu beijo morno sobre os meus lábios. Recomeças a mover-te devagar e depois entras novamente no teu ritmo, no nosso ritmo, sorrindo e brincando, entrelaçando os teus dedos nos meus.
Construímos um mundo só nosso e contemplamo-nos mutuamente. Os teus olhos nos meus na confirmação de nos termos um ao outro. A procura de um olhar na confirmação de que tudo isto é real. Ninguém nos conhece desta forma. Somos só nossos. Corpos que se fundem num só. Completam-se… A música continua a crescer e ouço-te gemer. Ficas ofegante, mas nem reparas. Deixas-te levar…
Por fim, respiras fundo e embalas-me nos teus braços. Sabes de cor o espaço que existe dentro de mim e que é só teu. Olhas-me de novo e reconheces-me. Inspiras-me. Respiras-me. Beijas-me demoradamente, porque o tempo parou. A nossa união é superior a todos os segundos que os ponteiros de um relógio possam impor.
Sentimo-nos tão próximos e simultaneamente tão livres… Estamos em paz com o mundo e connosco próprios. Percebemos que a música continua a tocar ao longe.
Deitamo-nos lado a lado sem nunca largar as mãos. Sorrimos por sabermos que, por momentos, o amor existiu de novo…



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